Ômega-3 no Peixe de Cativeiro: Engano ou Verdade?

Peixe de cativeiro tem ômega-3?

Sim, mas a quantidade e a qualidade variam muito.

Na verdade, muitos peixes de cativeiro — como a tilápia — pode ter mais ômega-6 do que ômega-3.

E isso muda tudo.

Na prática, isso pode significar que os benefícios esperados para o cérebro e o coração não estão sendo aproveitados como poderiam.

E aí vem a dúvida:

Estamos sem saída?

Ou falta apenas saber escolher o peixe certo?

E quanto aos metais pesados… será que estamos em risco?

Peixes criados em cativeiro estão livres dessa contaminação?

como esses peixes de cativeiro são alimentados?

E mais…

Carnes de animais terrestres também fornecem ômega-3?

E os suplementos, quais realmente funcionam?

Esse é o assunto do vídeo de hoje.

Antes de tudo, vale dizer uma coisa importante:

Peixes — mesmo os de cativeiro — ainda podem ser uma fonte valiosa de nutrientes.

Eles oferecem proteína de alta qualidade, vitaminas do complexo B, minerais como selênio, e sim — ainda contêm algum ômega-3, mesmo que em quantidades menores.

Na verdade, um peixe de cativeiro ainda é uma opção muito melhor do que alimentos ultraprocessados cheios de aditivos químicos e gorduras artificiais.

Ou seja: nem tudo está perdido.

O objetivo aqui não é demonizar os peixes, nem gerar medo — mas sim trazer informação.

E é aí que a conversa começa…

Na natureza, os peixes obtêm ômega-3 comendo algas, pequenos crustáceos e outros animais marinhos.

No cativeiro, porém, a dieta costuma ser bem diferente.

Embora alguns poucos produtores optem por dietas mais naturais — incluindo vegetação aquática, insetos e até resíduos orgânicos controlados —,  

na grande maioria das produções a base da alimentação é a ração industrial, feita principalmente com milho, soja, trigo, farelo de carne e ossos.

E para baratear os custos, muitos produtores ainda substituem o tradicional óleo de peixe por óleos vegetais — como óleo de soja ou de girassol.

O resultado disso é um peixe com menor teor de ômega-3, e maior teor de ômega-6. Especialmente ácido linoleico. Para entender melhor o problema do excesso do ácido linoleico, assista ao nosso vídeo anterior.

Para minimizar esse problema, alguns produtores suplementam a ração com óleo de peixe ou algas, buscando aumentar os níveis de ômega-3 — especialmente no caso de peixes nobres, como o salmão. No entanto, esse processo eleva significativamente os custos, e o consumidor nem sempre tem acesso a essas informações.

E aqui vale uma observação importante: nem todo cativeiro é em tanque de terra.

Hoje existe até piscicultura em mar aberto — chamada de aquacultura offshore ou maricultura.

Visualmente parece natural… só que não!

Os peixes vivem confinados em enormes redes flutuantes, sem acesso ao fundo do mar, sem algas, e, na maioria dos casos, são alimentados com ração industrial.

O objetivo, nesse modelo, é o mesmo: controlar totalmente a dieta, o crescimento, o custo e a escala de produção.

E voltando à diferença na composição dessas gorduras, só pra se ter uma ideia do tamanho do contraste:

Um salmão selvagem pode oferecer mais de 2000 miligramas de ômega-3 por 100 gramas, com uma proporção mais balanceada entre ômega-3 e ômega-6.

Já um salmão de cativeiro, dependendo da ração usada, pode ter menos da metade disso.

E a tilápia de cativeiro, bastante consumida no Brasil, pode chegar a uma proporção de 10 partes de ômega-6 para 1 de ômega-3.

Mas o que exatamente essa proporção significa?

Imagine que o seu corpo é como um carro.

O ômega-3 funciona como o freio: ajuda a desacelerar os processos inflamatórios e manter tudo sob controle.

Já o ômega-6 é o acelerador — ele é essencial para iniciar respostas inflamatórias, combater infecções e curar lesões.

Os dois são importantes. Mas se você pisa só no acelerador… e esquece do freio, o corpo vive em alerta máximo.

Muitas células do corpo ativam um sistema de defesa contínuo, liberando substâncias inflamatórias, como citocinas e radicais livres.

Nosso corpo é formado por trilhões de células. E quando há excesso de ômega-6, e pouco ômega-3, essas células ativam um sistema de defesa contínuo — liberando substâncias inflamatórias como citocinas e radicais livres.

Só que, no caso da inflamação crônica subclínica, esse sistema não se desliga por completo.

As células continuam produzindo essas substâncias em níveis baixos e constantes — sem sinais evidentes, como febre ou dor.

O resultado é um desgaste silencioso… que abre caminho para uma série de doenças crônicas, como obesidade, diabetes, doenças cardíacas e até declínio cognitivo.

O problema é que, na dieta moderna, estamos acelerando demais com ômega-6… e quase nunca freando com ômega-3.

Historicamente, a dieta humana apresentava uma proporção próxima de 1:1 entre ômega-6 e ômega-3. No entanto, como mostramos no vídeo anterior, com o alto consumo de óleos vegetais refinados, essa relação mudou drasticamente. Hoje, muitas pessoas chegam a consumir até 20 vezes mais ômega-6 do que ômega-3.

Esse desequilíbrio, pode anular os efeitos positivos que você esperaria do ômega-3.

Populações como os japoneses, por exemplo, mantêm uma proporção mais equilibrada entre ômega-3 e ômega-6 — graças ao consumo frequente de peixes selvagens, frutos do mar e algas. Além disso, a dieta tradicional japonesa tende a utilizar menos óleos refinados ricos em ômega-6.

E isso se reflete diretamente na saúde: os índices de doenças cardiovasculares são mais baixos — e a taxa de obesidade é uma das menores do mundo.

Apenas cerca de 3,7% da população adulta no Japão é considerada obesa — um número muito baixo quando comparado a países ocidentais.

Isso importa porque a obesidade não é apenas um excesso de gordura visível, ou excesso de calorias consumidas — ela é, antes de tudo, um estado de desajuste metabólico e hormonal, marcado por um processo silencioso, mas constante: a inflamação crônica subclínica.

E o desequilíbrio entre ômega-6 e ômega-3 na dieta é um dos importantes contribuintes para alimentar esse processo.

É claro que a inflamação também é impulsionada por outros fatores, como o excesso de açúcar, carboidratos refinados, deficiência de micronutrientes, falta de sono, o estresse crônico… Mas o tipo de gordura que você consome diariamente também conta — e muito.

Com isso em mente, podemos voltar ao tema criação de peixes…

A tilápia, por exemplo, que é o peixe de cativeiro mais consumido no Brasil, quase não é encontrada mais como espécie selvagem no comércio. Já o salmão selvagem, quase não é encontrado por aqui — ele é raro, importado e muito mais caro.

E por que, hoje, tanto peixe vem de criadouros?

Simples: a demanda é muito maior do que o que a pesca selvagem consegue fornecer com sustentabilidade. Muitos países impuseram restrições severas à pesca em larga escala. E isso não é algo ruim: ajuda a proteger o ecossistema marinho. Mas, por outro lado, abriu espaço para a piscicultura industrial crescer — e com ela vieram os desafios nutricionais que estamos mostrando aqui.

Hoje, quase 70% de todo o peixe consumido no mundo já vem de cativeiro. No Brasil, essa porcentagem é ainda maior.

Diante desse cenário, surge a pergunta que não quer calar:

Existe peixe selvagem disponível no Brasil?

Sim. Peixes como sardinha, tainha, pescada, anchova e alguns tipos de atum ainda são pescados no mar. E são, em geral, boas fontes de ômega-3.

A sardinha em especial é uma joia acessível e riquíssima: por ser um peixe pequeno e com ciclo de vida curto, acumula menos mercúrio, é abundante na costa brasileira, e contém uma boa quantidade de DHA e EPA — além de ser barata.

Agora, se você consome tilápia ou outros peixes de cativeiro alimentados com ração muito rica em ômega-6, isso não significa que está se intoxicando. No entanto, é importante entender que, além de não fornecerem ômega-3 em boas quantidades, essas fontes podem contribuir para um excesso de ômega-6 na sua dieta — especialmente se a ração for rica em óleo vegetal.

A sardinha hoje, é uma das melhores fontes de ômega 3.

E sim, até mesmo a sardinha em lata pode ser uma excelente opção!

Pra você ter uma ideia:

100 gramas de sardinha em lata fornecem, em média, cerca de 1.400 mg de ômega-3, sendo aproximadamente 500 mg de DHA e 400 mg de EPA.

Claro, esses valores podem variar dependendo da marca e do tipo de conserva — se é em óleo, água ou molho de tomate — mas, no geral, o perfil nutricional continua sendo muito interessante.

Mas aqui tem um detalhe importante: o tipo de óleo usado na conserva.

Infelizmente, na maioria dos casos, as sardinhas em lata vêm mergulhadas em óleo de soja, um dos óleos vegetais refinados mais ricos em ácido linoleico, ou seja, um tipo de ômega-6.

E como vimos no vídeo anterior, o excesso de ômega-6 pode desequilibrar a balança com o ômega-3 e prejudicar os efeitos benéficos que buscamos.

Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=RRF3cRHMw3I

Por isso, se a ideia é aproveitar ao máximo os benefícios da sardinha, o ideal é dar preferência a versões conservadas em água, ou com azeite de oliva extravirgem.

Essas são escolhas mais alinhadas com uma alimentação anti-inflamatória e que respeita o equilíbrio entre os ácidos graxos.

Muita gente torce o nariz por causa da espinha, mas tem uma dica simples que resolve isso:

Cozinhar a sardinha na panela de pressão por 30 a 35 minutos.

Com isso, a espinha amolece e vira uma excelente fonte de cálcio biodisponível.

Você pode ainda triturar tudo, temperar com limão, azeite, ervas e fazer uma pasta ou patê.

Mas lembre-se: a variedade é sempre bem-vinda.

Além da sardinha, peixes selvagens como a anchova, tainha, pescada, cavalinha e manjuba — entre outros — também podem enriquecer sua dieta com nutrientes essenciais e boas doses de ômega-3.

E tem mais um ponto relevante:

Peixes pequenos, e de vida curta, acumulam muito menos metais pesados.

E por falar nisso…

O que são, afinal, os metais pesados?

Metais pesados são elementos como mercúrio, chumbo, cádmio e arsênio, que podem se acumular no organismo ao longo do tempo — um processo conhecido como bioacumulação.

Quando consumidos em excesso e por longos períodos, esses metais podem sobrecarregar o fígado, os rins, o sistema nervoso e até afetar a imunidade.

No caso dos peixes, o mercúrio é o que mais merece atenção — especialmente na forma de metilmercúrio, que se concentra nos músculos dos peixes maiores, e que vivem por mais tempo no ambiente marinho.

Essa forma do mercúrio não é eliminada no cozimento, e por isso, a escolha do tipo de peixe faz toda a diferença.

Peixes pequenos são naturalmente mais seguros, pois vivem menos tempo e estão no início da cadeia alimentar — o que reduz muito o risco de acúmulo de metais.

E o que pode contaminar as águas?

As principais fontes de contaminação por metais pesados nos oceanos vem da própria atividade humana.

Por exemplo:

A queima de carvão, que libera mercúrio na atmosfera — e que depois cai nos oceanos com a chuva. Esse problema é ainda mais grave em países que ainda dependem fortemente dessa fonte de energia, como China, Índia, Indonésia e partes dos Estados Unidos.

A indústria química, que pode liberar metais tóxicos durante o processo de produção.

O descarte de resíduos industriais em rios, que acabam desaguando no mar.

E a mineração, que frequentemente contamina o solo e os cursos d’água com metais como chumbo, cádmio e arsênio.

E quanto aos peixes criados em criadouros?

Quando o assunto é contaminação por metais pesados, a notícia costuma ser mais animadora.

E, nesse ponto, esses peixes levam vantagem.

Como são criados em ambientes controlados — e alimentados com ração — esses peixes tendem a acumular muito menos mercúrio e outros metais tóxicos, em comparação com os peixes selvagens de longa vida e tamanho grande.

Uma vantagem importante para a segurança alimentar — especialmente para crianças, gestantes e outros grupos mais vulneráveis.

Por outro lado, além do problema do desequilíbrio entre ômega-6 e ômega-3 que já mencionamos, muitas pessoas também se preocupam com outra questão relacionada aos peixes de criadouros: o uso de antibióticos.

Em ambientes de alta densidade populacional, como os tanques de criação, a propagação de doenças é um risco constante. Para combater e prevenir infecções, é comum o uso de antibióticos e outros medicamentos na ração dos peixes.

O problema é que o uso excessivo e inadequado de antibióticos na aquicultura pode levar ao desenvolvimento de bactérias resistentes a esses medicamentos.

E quando consumimos esses peixes, existe o risco de contribuirmos para o aumento da resistência bacteriana em nosso próprio organismo.

Essa resistência é uma séria ameaça à saúde pública global, dificultando o tratamento de infecções em humanos no futuro.

Além disso, a ração usada nesses criadouros pode conter corantes artificiais — especialmente no caso dos salmões, que recebem pigmentos para ficarem com a coloração rosada.

Mas é importante lembrar que nem todo peixe de criadouro é igual.

Existem produtores que seguem boas práticas, usam menos antibióticos e investem em rações de melhor qualidade.

E claro, os peixes ainda são uma excelente fonte de proteína e nutrientes essenciais.

Muitas pessoas perguntam: o ômega-3 vem apenas de alimentos marinhos? Será que carnes de animais terrestres, como bovinos e frangos, também podem ser fontes desse nutriente? E as opções vegetais, como chia e linhaça, oferecem ômega-3?

Pra entender isso, precisamos antes de tudo, entender que o ômega-3 não é uma substância única, mas sim uma família de ácidos graxos poli-insaturados.

Os três tipos mais importantes para a saúde humana são:

  • O ALA (ácido alfa-linolênico);
  • O EPA (ácido eicosapentaenoico);
  • E o DHA (ácido docosahexaenoico).

O DHA é essencial para o cérebro, os olhos e as membranas das nossas células.

O EPA ajuda a controlar inflamações e a proteger o coração.

Já o ALA, presente principalmente em fontes vegetais — e em pequenas quantidades na carne — também é importante para a saúde, mas não oferece os mesmos benefícios diretos que o EPA e o DHA, que são mais ativos no organismo.

Para que o ALA seja útil para o nosso corpo como anti-inflamatório ou para a saúde cerebral, ele precisa ser convertido em EPA e DHA. No entanto, essa taxa de conversão é extremamente baixa no organismo humano, podendo chegar a menos de 5% para DHA e variar para EPA. Isso significa que, mesmo consumindo grandes quantidades de ALA, você provavelmente não terá níveis significativos de EPA e DHA.

O DHA e o EPA são as estrelas da família ômega-3, e são encontrados principalmente em peixes gordurosos e em alguns tipos de algas marinhas.

No entanto, carnes de animais terrestres como boi, frango e porco, não são fontes significativas de EPA e DHA.

A quantidade desses ácidos graxos é geralmente ínfima, especialmente em animais criados em sistemas de confinamento e alimentados com rações à base de grãos, que são ricos em ômega-6 e pobres em ômega-3.

Animais criados a pasto, como o gado alimentado com grama, podem apresentar uma proporção ligeiramente melhor de ômega-3 para ômega-6 em sua carne, pois a grama contém pequenas quantidades de ALA — mas, como vimos, o corpo converte pouco desse ALA em EPA e DHA.

Embora sementes como chia e linhaça sejam fontes de ômega-3 do tipo ALA, elas não devem ser consideradas fontes primárias de EPA e DHA. Para a maioria das pessoas, a conversão é ineficiente para suprir as necessidades do organismo.

Aqui vai uma curiosidade importante:

Os peixes não produzem ômega-3.

O EPA e o DHA que encontramos neles vêm da alimentação deles.

Eles acumulam esses ácidos graxos ao consumir microalgas — ou outros organismos menores que também se alimentam dessas algas.

Ou seja, os peixes não são a fonte primária de ômega-3 na cadeia alimentar marinha — são as algas.

E o EPA e o DHA, independentemente de virem de peixes ou algas, são exatamente as mesmas moléculas — e oferecem os mesmos benefícios comprovados para a saúde.

O consumo regular de peixes selvagens de pequeno porte, é uma ótima maneira de se obter DHA e EPA, com a vantagem dos múltiplos benefícios nutricionais que o alimento integral oferece.

No entanto, se o consumo de peixe não for possível ou suficiente, suplementar ômega-3 na forma de óleo de peixe ou óleo de algas é uma ótima opção.

Escolhendo Seu Suplemento de Ômega-3: Dicas Importantes.

Selos de Certificação de Pureza e Qualidade: Este é o critério mais importante. Procure por selos de organizações independentes que testam os produtos para pureza, concentração e oxidação. O selo IFOS (International Fish Oil Standards) é o mais reconhecido globalmente, mas outros como o GOED (Global Organization for EPA and DHA Omega-3) também indicam boa qualidade. Eles asseguram que o produto está livre de contaminantes e não está oxidado.

Concentração de EPA e DHA: Sempre verifique a quantidade real desses dois ácidos graxos por dose, e não apenas o “óleo total” na cápsula.

Forma (Triglicerídeos): Preferencialmente, busque a forma de triglicerídeos (TG), que é mais próxima da encontrada naturalmente e tem melhor absorção pelo seu corpo.

Embalagem e Antioxidantes: Prefira embalagens escuras e opacas, que protegem o óleo da luz. A presença de vitamina E (tocoferol) na fórmula é um bônus, pois ajuda a proteger o ômega-3 contra a oxidação.

Esperamos que esse conteúdo possa ter ajudado.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima