Alimentação faz diferença na saúde e na longevidade?

“Conheci uma pessoa que viveu até os 96 anos… e comia de tudo! Bebia refrigerante, fumava, e quase nunca ficava doente.”

Essa é uma das frases mais comuns pra justificar a ideia de que alimentação não tem nada a ver com saúde ou longevidade.

“Não importa o que você coma, o importante é a quantidade”…

Mas é curioso: ninguém diz o mesmo quando o assunto é carro… ou planta.

Ninguém coloca óleo de cozinha no motor.

Ninguém rega uma planta com refrigerante.

Mas quando o assunto é alimentação humana, de repente tudo muda.

De repente, tudo é “genética”, “sorte” ou “vontade de Deus”.

E o que entra na boca parece não ter importância nenhuma.

Quando o corpo humano entra em cena, tudo vira exceção.

Tudo é “cada um é cada um”.

Como se todos os alimentos fossem iguais.

É como se os nutrientes não tivessem importância…

Microbiota intestinal é bobagem… o intestino é só um tubo de passagem…

Equilíbrio hormonal é coisa de quem lê demais…

Uma bomba de açúcar não impacta a insulina…

Grelina e leptina, ou seja, os hormônios da fome e da saciedade são regulados pelo pensamento…

Os neurotransmissores, como serotonina, brotam do nada…

No fim das contas, o corpo humano é o único sistema do universo que funciona sem obedecer a leis bioquímicas. É pura magia.

Mas deixando a ironia de lado…

vamos falar sério.

Sim, existem pessoas que chegam aos 90 ou 100 anos “comendo de tudo”.

Mas será que faz sentido usar uma exceção como regra?

Existem pessoas que fumaram a vida inteira e, mesmo assim, nunca tiveram câncer.

Mas será que isso prova que fumar não traz prejuízos à saúde?

Ou será que não é mais sensato considerar o contexto completo…

a genética de exceção que essas pessoas carregam,

o estilo de vida ativo que tiveram,

e, principalmente, que o “comer de tudo” da juventude delas significava comida de verdade,

e não um banquete diário de ultraprocessados?

A genética tem, sim, um papel importante.

Mas genética não é destino… é potencial.

Vamos pensar um pouco mais…

As árvores não crescem apenas com sol e água.

Elas precisam dos minerais da terra, do equilíbrio da microbiota no solo e de um ecossistema que sustente a vida ao redor.

O ser humano também é assim.

Não basta calorias, hidratação, respiração… Precisamos de uma grande variedade de nutrientes para que as células desempenhem funções vitais como produção de energia, reparo tecidual, modulação inflamatória…

Não se trata de tudo ou nada, mas de entender a diferença entre quantidade e qualidade.

Para o corpo, 200 calorias de bolachas recheadas são muito diferente de 200 calorias de gemas de ovos.

O corpo é um laboratório vivo.

Cada célula depende de micronutrientes para fabricar enzimas, neurotransmissores, hormônios, sustentar o sistema imunológico…

Mas comer não é o mesmo que nutrir-se.

É possível encher o prato todos os dias e ainda assim viver em carência nutricional. Aliás, isso é comum.

O corpo não vive de calorias… vive de nutrientes.

E quando eles faltam… desequilíbrios silenciosos começam a surgir.

O corpo luta, se adapta, tenta compensar…

Mas toda adaptação tem um preço.

E mais cedo ou mais tarde, de uma forma ou de outra, ele cobra.

Inflamação silenciosa, resistência à insulina, oxidação das artérias, desequilíbrio intestinal, doenças autoimunes, obesidade… tudo isso começa muito antes do diagnóstico.

“Alimentar-se bem”, ou ao menos fazer o melhor possível, não é garantia de saúde plena nem de longevidade.

A vida é formada por uma rede complexa de fatores — genéticos, emocionais, ambientais e tantos outros…

Mas cuidar da alimentação é o mínimo que podemos fazer… em respeito à vida e ao corpo que nos permite vivê-la.

Alguns chamam isso de radicalismo.

Mas talvez o verdadeiro radicalismo seja ignorar as leis da biologia e entregar a própria saúde ao acaso… esperando que o corpo resista sem dar a ele o que precisa.

Dizer que alimentação não influencia a saúde

é o mesmo que dizer que o ambiente não influencia a planta.

O solo, a luz, a água — tudo importa.

E nós, seres humanos, não somos exceção.

Somos parte da mesma biologia, das mesmas leis da natureza.

Tudo o que somos… cada célula, cada pensamento, cada batida do coração — é feito daquilo que comemos.

Ignorar isso não muda o fato de que a biologia segue seu curso.

E o corpo responde, sempre, àquilo que recebe.

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