Recebemos esse comentário em nosso vídeo sobre a história dos óleos de sementes e gostaria de aproveitar para esclarecer alguns pontos importantes que muitas vezes geram confusão quando falamos sobre gorduras e saúde.

Sobre a Proibição das Gorduras Trans…
De fato, a ANVISA estabeleceu novas regras sobre gorduras trans a partir de 2023, mas é importante entender o que isso realmente significa.
A legislação brasileira passou a proibir a adição intencional de gorduras trans industriais em alimentos, alinhando-se às recomendações da OMS.
Isso é um avanço importante, sem dúvida.
No entanto, isso não torna os óleos vegetais automaticamente saudáveis.
O Processo de Refinamento Continua Problemático.
Os óleos de sementes (soja, canola, girassol, milho e outros…) ainda passam por um processo industrial extremamente agressivo que inclui:
- Extração com solventes químicos (geralmente hexano)
- Refinamento em altas temperaturas (acima de 200°C)
- Desodorização para remover o cheiro rançoso natural
- Clarificação química com ácidos e bases
Esse processo não apenas destrói os poucos nutrientes presentes, mas também pode gerar compostos oxidados e aldeídos tóxicos.
A ausência de gordura trans hidrogenada não elimina esses subprodutos do processamento.
Ômega-6: A Questão da Proporção.
Sobre o ômega-6 também estar presente em gorduras naturais, sim, isso é verdade. Mas há detalhes importantes aqui:
- Quantidade: Óleos de sementes industrializados contêm concentrações extremamente elevadas de ômega-6… até 70-80% do conteúdo total de gordura. Já as gorduras animais naturais têm proporções muito menores e mais equilibradas.
- Proporção Ômega-6/Ômega-3: Nossos ancestrais consumiam uma proporção próxima de 1:1 ou 2:1. Com os óleos industrializados, essa proporção chegou a 20:1 ou até 30:1 na dieta moderna. Esse desequilíbrio promove inflamação crônica.
- Estado de oxidação: O ômega-6 presente em gorduras animais e alimentos integrais (como nozes e sementes) está protegido por antioxidantes naturais e membranas celulares. Nos óleos refinados, já chega oxidado à nossa mesa devido ao processamento agressivo.
Gorduras Animais vs Vegetais: Perfil Lipídico
Quanto à afirmação de que “os vegetais são até melhores em relação ao perfil lipídico”, precisamos analisar criticamente:
A teoria de que gorduras saturadas aumentam colesterol e causam doenças cardíacas vem sendo cada vez mais questionada pela ciência moderna. Diversos estudos recentes, incluindo meta-análises robustas, não encontraram relação significativa entre consumo de gordura saturada e doenças cardiovasculares.
O que importa mais:
- O contexto metabólico da pessoa (resistência insulínica, inflamação sistêmica)
- A qualidade da gordura (natural vs processada)
- O padrão alimentar geral (ultraprocessados vs comida de verdade)
Gorduras animais de qualidade (manteiga de animais criados a pasto, banha, sebo) são estáveis ao calor, vêm com vitaminas lipossolúveis (A, D, K2, E) e fazem parte da alimentação humana há milhares de anos.
A Verdadeira Moderação.
Concordo que moderação é importante, mas precisamos definir o que isso significa. Para mim, moderação com óleos de sementes significa:
Evitá-los sempre que possível em casa.
Preferir azeite de oliva extravirgem, óleo de coco, manteiga e gorduras animais naturais.
Entender que, ao comer fora, provavelmente consumiremos esses óleos (e está tudo bem ocasionalmente).
“Moderação” não deveria significar usar óleo de soja para cozinhar todos os dias achando que é uma escolha saudável só porque não tem mais gordura trans adicionada.
Menos gorduras trans industriais é importante, mas não transforma óleos de sementes refinados em alimentos saudáveis. Eles continuam sendo produtos ultraprocessados, com altas concentrações de ômega-6 oxidado e destituídos de nutrientes.
A melhor escolha continua sendo priorizar gorduras naturais, minimamente processadas, que alimentaram populações saudáveis por gerações: azeite extravirgem, óleo de coco, manteiga, ghee e gorduras animais de qualidade.
Outros estudos:
– Uso a frio ou em baixa temperatura (ex.: saladas, finalização) preserva melhor os lipídios sensíveis.
– Fritura por imersão e reuso do óleo (comum em restaurantes e em casa) degradam óleos ricos em poli-insaturados, gerando aldeídos e outros produtos de oxidação potencialmente tóxicos. Isso independe de rótulo “sem trans”: é química térmica. Óleos alto-oleicos (mais monoinsaturados) e azeite tendem a ser mais estáveis que óleos muito ricos em linoleico na fritura. Link
A troca por interesterificados ainda está sob estudo quanto a efeitos finos em glicemia, lipoproteínas e inflamação — depende da arquitetura do triglicerídeo e da mistura (palma/estearato x palmitato, etc.). Link
